segunda-feira, 29 de abril de 2024

BANHANDO COM O DEFUNTO

 



BANHANDO COM O DEFUNTO

Pastor Clóvis de Sousa Nogueira

 

Só depois do nascimento dos meus filhos, compreendi a preocupação que dei aos meus pais. Nós não morremos na infância porque Deus não permitiu, mas fizemos de tudo para morrer.

Uma das nossas peripécias era banhar em tanques. Em nossa região é comum os criadores de gado abrirem tanques em suas roças para armazenar a água da chuva. No período das chuvas eles ficavam cheios, e as mães, aflitas. Elas pediam pelo amor de Deus para não passarmos nem perto dos tanques. Como a teimosia era maior que a obediência, o conselho não era ouvido, aliás, entrava num ouvido e saia no outro.

Certo dia, saímos para um banho no tanque de seu Oscar, um dos mais procurado por ser grande e fundo. Quando chegamos no local, havia uma camisa e um par de sandálias, e logo concluímos que alguém havia esquecido. Como o dia estava quente, ideal para um mergulho, imediatamente tiramos a roupa e mergulhamos. Cada um procurava impressionar os colegas com o mergulho mais demorado. Depois de um bom tempo mergulhando, outros meninos chegaram, e disseram que aquela camisa e as sandálias eram do “Joinha”, e disseram também que ele estava desaparecido há dois dias, e poderia estar no fundo do tanque. Pouco tempo depois chegou o delegado, e com ele outros homens para uma averiguação. Um dos rapazes que estava ali, a pedido do delegado, mergulhou e demorou no fundo do tanque. De repente, o rapaz saiu desesperado, com os olhos esbugalhados, com a mão cheia de cabelo, e gritou: “Meu Deus! Ele está aí!” Realmente, o homem estava no fundo do tanque. Ezequiel, filho da Nice de Rosendo, mergulhou, e com uma corda amarrou o defunto pelo braço, e puxaram para fora. Foi uma das cenas mais aterrorizantes que já vi.

O defunto tinha uma pedra enorme amarrada à perna, e estava em avançado estado de decomposição. Um cheiro horrível! E agora, o que fazer? Nossas mães precisavam saber, não havia como esconder. E foi o que fizemos, contamos tudo que aconteceu. Naquele dia levei uma reprimenda e um banho com álcool e desinfetante....

 

Trecho do livro, "O Livro da Minha Vida", em preparo. 


 

SOBRE O AUTOR:

 

CLÓVIS DE SOUSA NOGUEIRA nasceu em Ipupiara a 16 de junho de 1967. É pastor da Primeira Igreja Batista de Ipupiara. Não tem livros publicados até agora, mas seus trabalhos publicados nas redes sociais dariam vários livros, além do trabalho que faz junto aos membros e não membros da Igreja na cidade, incluindo a zona rural. Dirige o programa PROCLAMANDO CRISTO na Diamantina FM. Sob sua direção, a Igreja mantém congregações em Brotas de Macaúbas e nos povoados de Bela Sombra, Chiquita e Furados. É casado com Eliene Sodré de Andrade Nogueira e pai de três filhos: Alber Luiz de Andrade Nogueira, Lincoln Brainerd de Andrade Nogueira e Cléber Lewis de Andrade Nogueira.

Reside em Ipupiara, Bahia.


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