segunda-feira, 18 de março de 2024

MUNICÍPIO DE GENTIO DO OURO - PARTE I

 



    (PREFEITURA MUNICIPAL DE GENTIO DO OURO)


                               (CAMARA DE VEREADORES DE GENTIO DO OURO)

 

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

Município de Gentio do Ouro (Parte I)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com

 

Introdução

 

    Gentio do Ouro é um Município histórico do Estado da Bahia. Encontra-se localizado na parte Norte da Chapada Diamantina. Possui uma vasta área territorial. Seu território se estende por 3.699,87 km² e a população em 2016 foi estimada em 11.603 habitantes.(1) Conforme informativo/2017 da ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, a distância entre Gentio do Ouro e Salvador é de 630 km.

     Este Município registra uma longa e interessante história. Possui também um nome simpático de grande significado. Refere-se à grande quantidade de gente, pessoas que chegavam ao local para explorar garimpos. O topônimo é composto de dois substantivos: gentio, que neste caso significa grande quantidade de pessoas, reunião de pessoas, multidão (gente); e ouro – Mineral valioso. Elemento químico de número atômico 79, ponto de fusão 1063º (graus) e outras características químicas (2). Assim foi formado o atraente e agradável nome para este Município. Durante muitos anos e até nas primeiras décadas do século XX este município produziu muito ouro.

       Ouro é um metal precioso de alto valor, com brilho forte, cor que apresenta forte sensação visual no tom amarelo intenso, bastante maleável, mas muito resistente à corrosão. Esse metal foi durante muito tempo e ainda funciona como reserva de riqueza (garantia), sendo conservado como tal pelos principais bancos centrais do mundo. É encontrado em certas camadas de rochas profundas ou em areia de aluvião.

        Entre 1937 e 1939 foi instalada aqui no Município a empresa Companhia Metalúrgica Minas do Assuruá. Não demorou muito e a empresa entrou em concordata. Todo o patrimônio da empresa, inclusive a licença e outras autorizações para exploração das minas, foram leiloados na Primeira Corte do Rio de Janeiro. Os bens foram arrematados por um grupo empresarial carioca, cujo acionista principal era o Dr. Lisânya Cerqueira Leite. Por questões administrativas a empresa não durou muitos anos.

      Os garimpos de ouro, diamantes e outros minerais, até hoje são atividades que atrai muitos garimpeiros. Uns com o desejo de enriquecimento, outros com o desejo de conseguir o sustento semanal da família. Diz a lenda que entre os anos de 1935 a 1945 após cada chuva muita gente percorria as ruas de terra, nos regos por onde escorreu a enxurrada, e encontrava pequenas partículas de ouro.

       Nos últimos anos do século XIX e início do século XX esta parte da Bahia produziu   muito ouro e atraiu muita gente para trabalhar nos garimpos. Dizem que o ouro era tanto, que em pedras brutas – antes da purificação, era necessário transportar as pedras especiais em banguês (uma espécie de padiola para transportar materiais de garimpos e   entulho das demolições, etc.). Houve um tempo de grande produção de ouro, enriquecendo muita gente na região. A trajetória geopolítica desse Município, no início, foi agitada e apresentou momentos alternados e inseguros na política local.

     Os garimpos de ouro, diamantes e outros minerais, até hoje são atividades que atrai muitos garimpeiros. Uns com o desejo de enriquecimento, outros com o desejo de conseguir o sustento semanal da família.

       Aqui a vegetação existente apresenta uma grande diversidade, naturalmente sofrendo a influência do clima semiárido. A caatinga é o bioma predominante. Encontram-se muitas espécies de árvores, como barriguda (espécie de paineira), xique-xique e mandacarus (cactos) umburana de cheiro, umburana vermelha, jatobá, baraúna, aroeira, quixaba, juazeiro, jurema e outras árvores. A fauna, por sua vez, ainda apresenta muitas espécies de animais que preferem a caatinga.

       O sertão nordestino, que abrange uma grande área do território nacional, indo do norte de Minas Gerais atravessando o interior da Bahia e vários outros Estados, é dominado por clima semiárido. Apresenta alta temperatura, mas em alguns Municípios, devido a altitude, o clima é ameno. O sertão sempre teve uma característica marcante, que é um longo período de estiagem todos os anos. A esse período de estiagem os sertanejos chamam de “seca”. Ao período chuvoso (geralmente novembro a março, neste Município) chamam de “verde”. É a época em que as folhas das árvores, o capim e os vegetais ganham uma cor verde muito bonita. Uma parte do sertão, incluindo as terras de Gentio do Ouro, está dentro do chamado Polígono das Secas. Contudo, até 1970 o clima era mais favorável, sendo que no verde as chuvas eram mais fortes e mais frequentes. Nas últimas décadas as chuvas acontecem de forma mal distribuídas.

         O clima alterado segue fazendo surgir longos períodos de estiagens onde antes as chuvas eram perenes, como aconteceu em São Paulo – foi uma grande crise hídrica. Entre junho do ano 2014 e dezembro de 2015 o governo daquele Estado aprovou o racionamento na distribuição de água potável para as residências. A empresa de fornecimento de água potável e saneamento básico de São Paulo (Sabesp) passou a extrair e bombear água do chamado “volume morto” das represas do alto Tietê e Cantareira. (3) A previsão e a esperança eram que a partir do início do ano 2016 voltasse a chover de modo intenso, como acontecia antes. No período da crise hídrica aconteceu algo nunca visto na história daquele Estado, que foi o racionamento d’água. Mas aconteceu.

       O sistema climático do mundo mostra extremos. Em muitas partes do Brasil e do mundo os rios estão subindo 10/15 metros além do nível normal, causando inundações, levando e destruindo casas e plantações, como aconteceu em alguns rios da amazônia. Os cientistas estão prevendo que a região Sudeste do Brasil terá chuvas irregulares até o ano 2030. Realmente o clima está virado, como diz o povo. Em algumas regiões do mundo morrem pessoas por causa da forte onda de calor. Em outras morrem por causa da forte onda de frio.

     A verdade é que o mundo está maltratado, envelhecido e sofrendo os efeitos das alterações climáticas. Certamente as alterações não ocorrem por mero acaso. (4) Fenômenos diversos ocorreram e as modificações são visíveis no solo, nos mares e na atmosfera, alterando substancialmente o clima na terra. Infelizmente são problemas causados em nome do progresso. Mas, felizmente, de acordo com ambientalistas, onde há problema também há solução.

 

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(1)     Relatório IBGE/Cidades/Bahia/Gentio do Ouro, acesso em 28/12/2016.

 (2)     Caldas Aulete, em seu Dicionário Contemp. da Língua Portuguesa, vol. IV pág. n° 3.631 – Editora Delta, 1958.

 (3)     Conforme reportagens no jornal “O Estado de S. Paulo” de 10 de junho, 8 e 23 de julho de 2014.

 (4)     Harry J. Baerg, em seu livro O Mundo Já Foi Melhor. Casa Publicadora Brasileira – 1992.

 

 

EMANCIPAÇÃO  POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

 

 

       Os primeiros habitantes donos das terras que hoje pertencem a este Município foram os índios das tribos tapuia ou Jês e tupiguás. Estes índios viviam no interior do Brasil, especialmente no sertão da Bahia. (1) No final do século XVII alguns aventureiros partiram do litoral e andaram pelas terras do sertão. Passaram pelas serras desta região. Apenas passaram e observaram tudo que estava à vista. Encontraram muitos  índios. Naquele tempo era preciso ter muita coragem e desapego ao modo de vida no litoral para, depois de muito viajar, conseguir chegar a estas serras, pois além dos índios, eram infestadas de onças, tamanduás, cobras e outros animais selvagens.

      Conta-se que um senhor português por nome Belchior Dias Moreira, escrivão da Alfândega de São Salvador, foi o primeiro homem civilizado a penetrar nesta parte do sertão em 1703. Ficou admirado ao contemplar tantas serras exibindo um lindo matiz na cor cinza. Em 1704, quando regressou ao litoral, falou sobre a terra da “montanha de prata”. Alguns exploradores ouviram a conversa e, pelo nome da montanha, se mostraram interessados na possibilidade de encontrar minérios. Anos mais tarde, homens corajosos tomaram a decisão de conhecer o interior e para cá se dirigiram. Não encontraram a tal montanha de prata, mas estabeleceram-se nas baixadas para criar gado e explorar as serras. Bem mais tarde, em 1826, foram chegando famílias garimpeiras, de modo que em 1836 formaram um pequeno povoado, ao qual deram o nome de Gameleira.

       No povoado de gameleira, depois de 1836, com a descoberta das primeiras minas de ouro e diamantes, começaram a chegar pequenos grupos de garimpeiros. Mais tarde, garimpeiros movidos pelo desejo do enriquecimento rápido começaram a chegar e explorar com mais atenção as serras desta parte da Chapada. Encontraram ouro. Em pouco tempo o local passou a ser chamado de Gameleira do Assuruá. Está comprovado e percebe-se que ainda em pleno século XXI o território deste Município é rico em minerais.

       Entre 1860 e 1900, devido ao aumento da produção mineral, muitas famílias foram chegando vindas dos Municípios próximos e do litoral da Bahia. A viagem era longa e cansativa e era feita em várias etapas. Compravam a passagem de trem em Salvador com destino a Juazeiro (já existia a estrada de ferro Bahia-São Francisco Railway Company). Em Juazeiro embarcavam em canoas movidas a remo sob a força de fortes escravos ou à vela. Desembarcavam nas imediações de Xique-Xique. Após descansarem alguns dias, montavam em bons cavalos e tomavam o rumo das serras de Santo Ignácio e Gameleira do Assuruá (hoje pertencem ao Município de Gentio do Ouro).

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Este texto é parte integrante do livro Chapada 

Diamantina, em elaboração.

 

 

SOBRE O AUTOR:

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.

Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

 


Um comentário:

  1. Muito bom artigo. Informações valiosas para pessoas que moram no município e arredores e uma ótima fonte para quem não conhece passar a conhecer Gentio do Ouro.

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