MUNICÍPIOS
DA CHAPADA DIAMANTINA
Município
de Gentio do Ouro (Parte I)
Saul
Ribeiro dos Santos
Introdução
Gentio do Ouro é um Município histórico do Estado da
Bahia. Encontra-se localizado na parte Norte da Chapada Diamantina. Possui uma
vasta área territorial. Seu território se estende por 3.699,87 km² e a
população em 2016 foi estimada em 11.603 habitantes.(1) Conforme
informativo/2017 da ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, a distância entre
Gentio do Ouro e Salvador é de 630 km.
Este Município registra uma longa e
interessante história. Possui também um nome simpático de grande significado.
Refere-se à grande quantidade de gente, pessoas que chegavam ao local para
explorar garimpos. O topônimo é composto de dois substantivos: gentio,
que neste caso significa grande quantidade de pessoas, reunião de pessoas,
multidão (gente); e ouro – Mineral valioso. Elemento químico de
número atômico 79, ponto de fusão 1063º (graus) e outras características
químicas (2). Assim foi formado o atraente e agradável nome para este
Município. Durante muitos anos e até nas primeiras décadas do século XX este
município produziu muito ouro.
Ouro é um metal precioso de alto valor,
com brilho forte, cor que apresenta forte sensação visual no tom amarelo
intenso, bastante maleável, mas muito resistente à corrosão. Esse metal foi
durante muito tempo e ainda funciona como reserva de riqueza (garantia), sendo
conservado como tal pelos principais bancos centrais do mundo. É encontrado em
certas camadas de rochas profundas ou em areia de aluvião.
Entre 1937 e 1939 foi instalada aqui no
Município a empresa Companhia Metalúrgica Minas do Assuruá. Não demorou muito e
a empresa entrou em concordata. Todo o patrimônio da empresa, inclusive a
licença e outras autorizações para exploração das minas, foram leiloados na
Primeira Corte do Rio de Janeiro. Os bens foram arrematados por um grupo
empresarial carioca, cujo acionista principal era o Dr. Lisânya Cerqueira
Leite. Por questões administrativas a empresa não durou muitos anos.
Os garimpos de ouro, diamantes e outros
minerais, até hoje são atividades que atrai muitos garimpeiros. Uns com o
desejo de enriquecimento, outros com o desejo de conseguir o sustento semanal
da família. Diz a lenda que entre os anos de 1935 a 1945 após cada chuva muita
gente percorria as ruas de terra, nos regos por onde escorreu a enxurrada, e
encontrava pequenas partículas de ouro.
Nos últimos anos do século XIX e início
do século XX esta parte da Bahia produziu
muito ouro e atraiu muita gente para trabalhar nos garimpos. Dizem que o
ouro era tanto, que em pedras brutas – antes da purificação, era necessário
transportar as pedras especiais em banguês (uma espécie de padiola para
transportar materiais de garimpos e
entulho das demolições, etc.). Houve um tempo de grande produção de
ouro, enriquecendo muita gente na região. A trajetória geopolítica desse
Município, no início, foi agitada e apresentou momentos alternados e inseguros
na política local.
Os garimpos de ouro, diamantes e outros
minerais, até hoje são atividades que atrai muitos garimpeiros. Uns com o
desejo de enriquecimento, outros com o desejo de conseguir o sustento semanal
da família.
Aqui a vegetação existente apresenta uma
grande diversidade, naturalmente sofrendo a influência do clima semiárido. A
caatinga é o bioma predominante. Encontram-se muitas espécies de árvores, como
barriguda (espécie de paineira), xique-xique e mandacarus (cactos) umburana de
cheiro, umburana vermelha, jatobá, baraúna, aroeira, quixaba, juazeiro, jurema
e outras árvores. A fauna, por sua vez, ainda apresenta muitas espécies de
animais que preferem a caatinga.
O sertão nordestino, que abrange uma
grande área do território nacional, indo do norte de Minas Gerais atravessando
o interior da Bahia e vários outros Estados, é dominado por clima semiárido.
Apresenta alta temperatura, mas em alguns Municípios, devido a altitude, o
clima é ameno. O sertão sempre teve uma característica marcante, que é um longo
período de estiagem todos os anos. A esse período de estiagem os sertanejos
chamam de “seca”. Ao período chuvoso (geralmente novembro a março, neste
Município) chamam de “verde”. É a época em que as folhas das árvores, o capim e
os vegetais ganham uma cor verde muito bonita. Uma parte do sertão, incluindo
as terras de Gentio do Ouro, está dentro do chamado Polígono das Secas.
Contudo, até 1970 o clima era mais favorável, sendo que no verde as chuvas eram
mais fortes e mais frequentes. Nas últimas décadas as chuvas acontecem de forma
mal distribuídas.
O clima alterado segue fazendo surgir
longos períodos de estiagens onde antes as chuvas eram perenes, como aconteceu
em São Paulo – foi uma grande crise hídrica. Entre junho do ano 2014 e dezembro
de 2015 o governo daquele Estado aprovou o racionamento na distribuição de água
potável para as residências. A empresa de fornecimento de água potável e
saneamento básico de São Paulo (Sabesp) passou a extrair e bombear água do
chamado “volume morto” das represas do alto Tietê e Cantareira. (3) A
previsão e a esperança eram que a partir do início do ano 2016 voltasse a
chover de modo intenso, como acontecia antes. No período da crise hídrica
aconteceu algo nunca visto na história daquele Estado, que foi o racionamento
d’água. Mas aconteceu.
O sistema climático do mundo mostra
extremos. Em muitas partes do Brasil e do mundo os rios estão subindo 10/15
metros além do nível normal, causando inundações, levando e destruindo casas e
plantações, como aconteceu em alguns rios da amazônia. Os cientistas estão
prevendo que a região Sudeste do Brasil terá chuvas irregulares até o ano 2030.
Realmente o clima está virado, como diz o povo. Em algumas regiões do mundo
morrem pessoas por causa da forte onda de calor. Em outras morrem por causa da
forte onda de frio.
A verdade é que o mundo está
maltratado, envelhecido e sofrendo os efeitos das alterações climáticas.
Certamente as alterações não ocorrem por mero acaso. (4) Fenômenos diversos
ocorreram e as modificações são visíveis no solo, nos mares e na atmosfera,
alterando substancialmente o clima na terra. Infelizmente são problemas
causados em nome do progresso. Mas, felizmente, de acordo com ambientalistas,
onde há problema também há solução.
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(1) Relatório IBGE/Cidades/Bahia/Gentio do
Ouro, acesso em 28/12/2016.
EMANCIPAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Os primeiros habitantes donos das
terras que hoje pertencem a este Município foram os índios das tribos tapuia ou
Jês e tupiguás. Estes índios viviam no interior do Brasil, especialmente no
sertão da Bahia. (1) No final do século XVII alguns aventureiros partiram
do litoral e andaram pelas terras do sertão. Passaram pelas serras desta
região. Apenas passaram e observaram tudo que estava à vista. Encontraram
muitos índios. Naquele tempo era preciso
ter muita coragem e desapego ao modo de vida no litoral para, depois de muito
viajar, conseguir chegar a estas serras, pois além dos índios, eram infestadas
de onças, tamanduás, cobras e outros animais selvagens.
Conta-se que um senhor português por nome
Belchior Dias Moreira, escrivão da Alfândega de São Salvador, foi o primeiro
homem civilizado a penetrar nesta parte do sertão em 1703. Ficou admirado ao
contemplar tantas serras exibindo um lindo matiz na cor cinza. Em 1704, quando
regressou ao litoral, falou sobre a terra da “montanha de prata”. Alguns
exploradores ouviram a conversa e, pelo nome da montanha, se mostraram
interessados na possibilidade de encontrar minérios. Anos mais tarde, homens
corajosos tomaram a decisão de conhecer o interior e para cá se dirigiram. Não
encontraram a tal montanha de prata, mas estabeleceram-se nas baixadas para
criar gado e explorar as serras. Bem mais tarde, em 1826, foram chegando
famílias garimpeiras, de modo que em 1836 formaram um pequeno povoado, ao qual
deram o nome de Gameleira.
No povoado de gameleira, depois de 1836,
com a descoberta das primeiras minas de ouro e diamantes, começaram a chegar
pequenos grupos de garimpeiros. Mais tarde, garimpeiros movidos pelo desejo do
enriquecimento rápido começaram a chegar e explorar com mais atenção as serras
desta parte da Chapada. Encontraram ouro. Em pouco tempo o local passou a ser
chamado de Gameleira do Assuruá. Está comprovado e percebe-se que ainda em
pleno século XXI o território deste Município é rico em minerais.
Entre 1860 e 1900, devido ao aumento da
produção mineral, muitas famílias foram chegando vindas dos Municípios próximos
e do litoral da Bahia. A viagem era longa e cansativa e era feita em várias
etapas. Compravam a passagem de trem em Salvador com destino a Juazeiro (já
existia a estrada de ferro Bahia-São Francisco Railway Company). Em
Juazeiro embarcavam em canoas movidas a remo sob a força de fortes escravos ou
à vela. Desembarcavam nas imediações de Xique-Xique. Após descansarem alguns
dias, montavam em bons cavalos e tomavam o rumo das serras de Santo Ignácio e
Gameleira do Assuruá (hoje pertencem ao Município de Gentio do Ouro).
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Este texto é parte integrante do livro Chapada
Diamantina, em elaboração.
SOBRE O AUTOR:
SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro,
Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de
Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos
Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.
Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio,
Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.
Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos
das Regiões da Chapada Diamantina e do
Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o
objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em
2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.
Muito bom artigo. Informações valiosas para pessoas que moram no município e arredores e uma ótima fonte para quem não conhece passar a conhecer Gentio do Ouro.
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