segunda-feira, 18 de março de 2024

MEU VERSO QUASE CORDEL

 

                                 (FOTO DO PRIMO SANDRO, IPUPIARA, BAHIA)


MEU VERSO QUASE CORDEL

Filemon Martins

 

Meu verso vem do Nordeste,

vem do roçado, vem do Sertão,

vem das veredas lá do agreste,

vem das cacimbas e dos grotões.

 

Meu verso vem dos garimpos,

das catras dos garimpeiros,

da coragem dos vaqueiros

vestidos no seu gibão.

Vem do sereno da noite

do perfume do Sertão.

 

Meu verso simples, sem medo,

vem do sítio, do rochedo,

vem do povo do Sertão,

que com a luz do arrebol

trabalha de sol a sol

para ganhar o seu pão.

 

Vem da Serra do Carranca

onde a beleza não manca,

e a onça faz sentinela.

Da Serra da Mangabeira

onde a Lua vem brejeira

tecer a renda mais bela.

 

Meu verso vem da goiaba,

do puçá e da mangaba,

da seriguela e do mamão.

Da pinha e da acerola,

da atemóia e graviola

plantadas  no roçadão.

 

Nasceu na bela Umbaúba,

Boa Vista, Bela Sombra,

na Lagoa de Prudente,

na Chiquita e no Vanique,

onde há muito xique-xique

e o sol parece mais quente.

 

Brejões, Lagoa do Barro,

Santo Antonio, Traçadal,

Olho D´Água, Rio Verde,

Baixa dos Marques, Coxim,

Ibipetum, depois Pintada,

onde passa a velha estrada,

Zequinha e Lamarca morreram.

 

Sodrelândia, Deus me Livre,

Pé de Serra, Poço da Areia,

Riacho das Telhas também.

Poço do Cavalo, Matinha,

Mata do Evaristo e Veríssimo,

Olhodaguinha e Ipupiara.

 

Meu verso nasceu no mato,

não tem brilho, nem ornato,

vem do Morro do Mocó,

da Serra do Sincorá,

vem do morro do Araçá,

nasceu pobre e vive só...

 

 

 


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