MUNICÍPIOS
DA CHAPADA DIAMANTINA
MUNICÍPIO
DE BROTAS DE MACAÚBAS (Parte II)
Saul
Ribeiro dos Santos
O solo do território deste Município
apresenta relevo com montanhas e vales. Até o início do século XX, nos pequenos
riachos havia água corrente até chegar o mês de julho. As águas retornavam ao
curso normal em novembro, com a chegada das primeiras chuvas do período
chuvoso.
O interesse por pedras preciosas trouxe
para esta região o comerciante português, o Capitão-mor (2) Romão
Gramacho com seus familiares, empregados e escravos. Ele estava interessado em
pedras preciosas. Descobriu jazidas de diamantes, carbonados, cristal e outros
minerais. Isso aconteceu do final do século XVIII para o início do século XIX.
Alguns escritores contam que entre 1792 e 1802 o capitão Romão Gramacho
encontrou os primeiros diamantes nesta parte da Província.
As histórias contada verbalmente de pais
para filhos dão conta de que por volta de 1820 o Sargento-mór Francisco da
Rocha Medrado, de Mucugê, encontrou diamantes nos vales e grotões da Chapada
Velha. Em 1844 um comerciante e garimpeiro experiente por nome José Pereira do
Prado, mais conhecido como Sr. Cazuza (Cazuzinha), que anos antes, tinha andado
aqui por esta parte da Chapada, percebeu que o cascalho do Rio Cumbucas, nos
arredores de Mucugê, era semelhante aos cascalhos dos riachos da Chapada Velha.
Os garimpos de Mucugê produziram muitas riquezas. Expandia sua influência para
outras partes.
Membros da família Gramacho se
estabeleceram nestas terras, chegando até onde hoje está a cidade de Oliveira
dos Brejinhos. Foram famílias pioneiras, corajosas e importantes que chegaram a
este rincão de muitas serras, outeiros e vales com trechos de terras férteis.
Sim, encontraram minérios e muitas áreas boas para o cultivo de cereais e
pastos. Encontraram também muitos animais selvagens e ferozes. Naquele tempo
tudo era assim mesmo. Era um cenário maravilhoso.
O interesse em descobrir e explorar
garimpos ricos em minérios deu origem a muitos povoados na Chapada Diamantina.
Esse foi o motivo da origem de um pequeno povoado com casas simples, que muitos
anos mais tarde foi reconhecido e transformado na sede do Município de Brotas
de Macaúbas.
As terras desta parte do sertão que
estavam nas margens do Rio São Francisco foram doadas pelo imperador para a
família Mariani, mas pertenciam à Vila Agrícola de N. Sra. de Macaúbas. O
vilarejo aqui formado passou a ser chamado de Brotas de Macaúbas, em função da
existência de muitas palmeiras da espécie. Em alguns lugares a planta é chamada
de macaíba.
Recentemente jornais de São Paulo e
Brasília informaram que a planta macaíba está sendo cultivada em algumas partes
de Minas Gerais, em lavouras bem planejadas com vários hectares. Os frutos
serão utilizados para a produção de óleo combustível, mistura do produto
vegetal com o sintético para formar o biodiesel. É um projeto interessante que
pode se tornar numa atividade promissora e rendosa, que pode ser copiado e
implantado por aqui.
Em 2017 estive na Prefeitura e na
Câmara de Vereadores, em busca de informações sobre fatos e construções de
prédios públicos nas partes que até 1958 eram Distritos importantes deste
Município. Fui informado que em anos passados houve um princípio de incêndio e
muitos documentos foram destruídos.
Brotas de Macaúbas possui registros de
fatos interessantes. Aconteceram contendas e movimentos que agitaram a política
e a comunidade, influenciando, naquele tempo, toda a região. Eis um apanhado
geral da marcha dos acontecimentos dentro desse Município e que foram se
sucedendo ao longo dos anos:
Em 1825 foi erguida uma pequena Igreja
Católica. A padroeira do lugar é N. Sra. de Brotas. Antes da construção da
pequena igreja as rezas eram realizadas nas casas dos devotos.
Pela Lei Provincial n° 0256 de 17 de março
de 1847 o povoado foi elevado para a categoria de Freguesia (3) e
recebeu o nome de Vila Agrícola de N. Srª de Brotas de Macaúbas. O povo
continuou chamando o pequeno povoado simplesmente de “Brotas de Macaúbas”. O
que caracterizava o nome do lugar era a planta existente nos sopés das serras.
No dia 16 de julho de 1878, pela Lei n°
1.817 passou para a categoria de Vila, recebeu o nome de Vila Agrícola de N.
Sra. de Brotas de Macaúbas. A vila foi desmembrada de Macaúbas e instalada em
20/06/1882. O povo chamava o lugar simplesmente de Brotas de Macaúba.
No Mapa da Divisão Administrativa do Estado
da Bahia, do ano 1911, o novo Município ficou constituído de 3 Distritos, a
saber: Brotas de Macaúbas (a sede), Chapada Velha e Corrente.
Em 1916 o Coronel Militão Coelho, usou o seu
prestígio e solicitou ao governador Antônio Muniz Aragão que o território de
Barra do Mendes fosse desmembrado de Brotas de Macaúbas para formar um novo
Município com sede em Barra do Mendes. O governador atendeu e pela Lei Estadual
1.203/17 de 21/07/1917 foi criado o novo Município.
Pela Lei Estadual n° 1.250/18 de 15 de julho
de 1918, foi aprovada a criação do
Distrito de Jordão e anexado ao Município de Brotas de Macaúbas.
Após derrotar o coronel Militão Rodrigues
Coelho, o coronel Horácio de Matos, durante a conferência Convênio de Lençóis,
realizado em 23/03/1920, solicitou ao governador do Estado da Bahia, que o
Município de Barra do Mendes fosse extinto e reintegrado ao Município de Brotas
de Macaúbas.
Por força da Lei Estadual n° 1.388/20 de
24/05/1920, assinada pelo governador José Joaquim Seabra, foi extinto o
Município de Barra do Mendes e o seu território foi reanexado ao Município de
Brotas de Macaúbas.
No Recenseamento Geral datado de 01/09/1920
o Município aparece constituído de 3 Distritos, a saber: Brotas de Macaúbas (a
sede), Chapada Velha e Jordão (ex-povoado de Fundão). Não constou o Distrito de
Corrente.
Anos mais tarde, em 1931, pelos Decs.-Leis
Estaduais n° 7.455/31 e 7.479/31
respectivamente de 23/06/1931 e 09/07/1931, o Município passou ter o
simples nome de Brotas, mas o povo continuou chamando de Brotas de Macaúbas
(como sendo uma distinção de honra).
Pelo Decreto Estadual de n° 8.291/33 de 3 de
fevereiro de 1933 é criado o Distrito de Barra do Mendes e anexado ao Município
de Brotas.
No Mapa da Divisão Territorial do Estado da
Bahia, datado de 1933, o Município aparece constituído por 4 Distritos, a
saber: Brotas (a sede), Chapada Velha, Jordão e Barra do Mendes.
Pela Lei Estadual n° 9.251/34 o povoado de
Morpará (na margem direita do Rio S. Francisco) foi elevado para a categoria de
Distrito, fazendo parte do Município de Brotas.
Nos Mapas da Divisão Territorial do Estado
da Bahia, datados de 31/12/1936 e 31/12/1937 o Município aparece constituído de
5 Distritos, a saber: Brotas (a sede), Barra do Mendes, Jordão, Morpará e São
Francisco (não aparece o nome de Chapada Velha).
Pelo Decreto Estadual n° 11.089/38 de 30 de
novembro de 1938 o Distrito de São Francisco passou a ter o nome de Saudável.
No Mapa da Divisão Territorial do Estado da
Bahia, no período 1939 a 1943 o município aparece composto por 5 Distritos, a
saber: Brotas (a sede), Jordão, Barra do Mendes, Morpará e Saudável (ex. S.
Francisco).
Pelo Dec.-Lei Estadual n° 141/43 confirmado
pelo Dec. 12.978/44 de 01/06/1944 o Município teve o nome alterado, voltou a
ser denominado de Brotas de Macaúbas e o Distrito de Jordão teve o nome
alterado para Ipupiara. Na ocasião a mudança aconteceu sem consultar o povo do
Distrito, sem realizar um “referendum” e sem pedir a opinião do povo. Naqueles
anos a Bahia era governada por um interventor federal – Gen. Renato Onofre P.
Aleixo.
No Mapa da Divisão Territorial do Estado da
Bahia, datado de 01/07/1950 o Município aparece constituído de 5 Distritos, a
saber: Brotas de Macaúbas (a sede), Barra do Mendes, Ipupiara (ex-Jordão),
Morpará e Saudável.
Pela Lei Estadual n° 628/53 de 30 de
dezembro de 1953 foram criados os Distritos de Ibipetum (ex-povoado de
Gameleira), Minas do Espirito Santo e Ouricurí do Ouro. Todos foram anexados ao
Município de Brotas de Macaúbas.
No Mapa da Divisão Territorial do Estado da
Bahia, datado de 1° de julho de 1955 o Município de Brotas de Macaúbas aparece
constituído de 8 Distritos, a saber: Brotas de Macaúbas (a sede), Ipupiara,
Barra do Mendes, Ibipetum, Minas do Espírito Santo, Morpará, Ouricuri do Ouro e
Saudável.
Pela Lei Estadual n° 1.015/58 de 9 de agosto
de 1958 foi aprovada a emancipação política e administrativa de Ipupiara,
formando assim um novo Município do Estado da Bahia, do qual passou a fazer
parte o Distrito de Ibipetum. O Município de Brotas de Macaúbas cedeu parte do
seu território para constituir o novo Município.
Pela Lei Estadual n° 1.034/58 de 14 de
agosto de 1958 foi aprovada a emancipação política e administrativa de Barra do
Mendes, formando assim um novo Município do Estado da Bahia, do qual passou a
fazer parte o Distrito de Minas do Espirito Santo. O Município de Brotas de
Macaúbas cedeu parte do seu território para entrar na composição do território
deste novo Município.
Pela Lei Estadual n° 1.722 de 16 de julho de
1962 foi aprovada a emancipação política e administrativa de Morpará, na margem
direita do Rio São Francisco. O Município de Brotas de Macaúbas cedeu parte do
seu território para entrar na composição do território deste outro Município.
No Mapa da Divisão Territorial do Estado da
Bahia, datado de 31/12/1963 este Município de Brotas de Macaúbas está
constituído por 3 Distritos, a saber: Brotas de Macaúbas (a sede), Cocal,
Ouricuri do Ouro e Saudável. Assim permaneceu no Mapa da Divisão Territorial de
2007.
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Este
texto é parte integrante do esboço do livro Chapada Diamantina, em
elaboração.
(2) Título concedido pelo Rei de Portugal no
tempo do Brasil-colônia. Autoridade que comandava uma grande extensão de terras. Caldas Aulete em seu Dic.
Contemporâneo da Língua Portuguesa, pág. 838. Edit. Delta – 1958.
Pode-se dizer que eram os paroquianos
das redondezas, os devotos que compareciam às festas e aos apelos do padre
local para as cerimônias litúrgicas. Era considerado como um Distrito da
Paróquia.
Dic. Contemporâneo da Línguas
Portuguesa, vols. 3 e 4, Prof. Caldas Aulete. Edit. Delta S/A –1958, Rio de
Janeiro.
SOBRE O AUTOR:
SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro,
Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de
Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos
Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.
Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio,
Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.
Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos
das Regiões da Chapada Diamantina e do
Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o
objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em
2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.
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