segunda-feira, 23 de outubro de 2023

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA - MUNICÍPIO DE ANDARAÍ (PARTE II)

 

  (CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE ANDARAÍ)

                    (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANDARAÍ - SEDE PROVISÓRIA)



MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

MUNICÍPIO  DE  ANDARAÍ (Parte II)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com


EMANCIPAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA


          

      Os primeiros habitantes das terras do Município de Andaraí foram os índios. Eram seres humanos descendentes das tribos cariris, maracás e tupiguás. (1) Foram os povos indígenas, com sua simplicidade, honestidade e seriedade que começaram o povoamento desta terra. Quando D. Rodrigo e outros aventureiros chegaram a esta terra perceberam que o local já estava habitado. 

     De modo semelhante aconteceu quando Pedro Álvares Cabral e sua equipe ancoraram suas caravelas e desembarcaram nas praias do litoral que hoje pertencem ao Estado da Bahia, no local hoje denominado de Cabrália. Naquele tempo os índios, pessoas confiantes e com seus costumes simples, receberam de bom grado os estrangeiros que estavam desembarcando. Os portugueses ficaram surpresos porque a terra já estava habitada. Eram pessoas com costumes diferentes, mas eram seres humanos. Os índios se mostraram pacíficos e amigos. A verdade é que o litoral brasileiro já estava habitado. Alguém chegou antes de Pedro Alvares Cabral. Em outras viagens os portugueses que aportaram nas costas brasileiras começaram a tirar proveito das mulheres índias, a subjugar, explorar e escravizar os homens índios. Os índios não gostaram dessas atitudes.

       O costume de escravizar índios passou a ser uma prática comum e muito utilizada pelos exploradores portugueses ao longo de anos. O professor Pedro Calmon, (2) no seu livro “História da Civilização Brasileira” conta que uma Lei de 30 de junho de 1609 declarou os índios inteiramente livres. Entretanto, outra Lei de 10 de setembro de 1611 “autorizava o cativeiro em consequência de guerras ou por motivos justos e por prazo máximo de dez anos”. É como diz o povo: as leis são feitas com muitas brechas e a corda quebra no lado mais fraco.

     Retornando à história de Andaraí, consta que no ocaso do século XVIII chegou a esta região o português D. Rodrigo de Souza Coutinho. Ele adquiriu propriedades no sopé das montanhas. Andaraí foi uma povoação começada e desenvolvida num local privilegiado. Esta era a visão dos garimpeiros, dos compradores de pedras preciosas e dos trabalhadores em geral. Hoje percebemos esta verdade, não só porque os garimpos eram ricos em pedras de grande valor, mas também porque possui terras férteis para lavouras e locais de grande atratividade. Conforme afirma o biólogo e professor Roy Funch, a cidade de “Andaraí está localizada na encosta leste da Serra do Sincorá, nas margens do Rio Baiano, não muito longe do Rio Paraguaçu, onde este curso d’água sai das serras”. (3)

      De acordo com informações das pessoas idosas moradoras na cidade, o capitão por nome Figueiredo, vindo de Minas Gerais, trazendo a família e alguns escravos, chegou e fixou residência nesta parte, no sopé das montanhas. A população crescia em função da produção de ouro e diamantes. 

      Nesta parte das Lavras Diamantinas estavam presentes pessoas de várias partes da Bahia, de Minas Gerais e até de outros de Estados. Eram pessoas interessadas em trabalhar e prosperar: Encontravam-se:

Garimpeiros – Esses constituíam a maior parte da população. Eram trabalhadores nas lavras dos minérios, por conta própria ou meia-praça (sustentados por homens ricos).

Negociantes – homens ricos compradores de pedras preciosas, também conhecidos como pedristas.

. Intermediários – compradores que tratavam de comprar diretamente dos garimpeiros e revender o produto para os pedristas.

Escravos – Homens e mulheres procedentes da África ou seus filhos, sendo que todos trabalhavam e prestavam serviços para seus senhores. Após a lei da libertação muitos continuaram, de modo espontâneo, ligados às mesmas famílias.

        O ajuntamento de garimpeiros foi aumentando, a comunidade foi crescendo e os problemas e questões de ordem social também foram surgindo, mostrando força e exigindo soluções por parte do poder público. Assim, as autoridades perceberam que era necessário abrir repartições públicas para garantir a segurança e a cobrança de impostos. Corria muito dinheiro e todos exibiam intenso glamour. Eram realizados muitos bailes animados pela orquestra sinfônica do lugar.

     Vamos agora tomar conhecimento dos principais acontecimentos sociais e políticos que ocorreram nesta importante parte da Bahia:

Nos últimos anos do século XVIII chegou a estas terras de montanhas e vales o português D. Rodrigo de Souza Coutinho. Adquiriu propriedades no sopé da montanha e construiu casas. Ele percebeu a existência de quilombos.

A partir do ano 1844 com a descoberta de diamantes em Mucugê, a esperança ou o desejo de enriquecimento rápido entrou na cabeça do povo. Muitos garimpeiros passaram a examinar o solo e os riachos dos arredores das duas localidades – Andaraí e Mucugê.

Em 1847 foi instalado e inaugurado o Distrito Policial de Andaraí, seguindo orientação da Paróquia local. 

Em 1850 era grande a quantidade de famílias recém-chegadas a este rincão. As famílias chegavam e tratavam logo de construir seus ranchos ou barracas, sempre com a esperança de pegar muitos diamantes e pepitas de ouro. O objetivo era o enriquecimento rápido.

Por Lei Provincial n° 1.811 de 1878, foi criado o Tribunal Distrito de Paz de Andaraí e também foi criada a sede da Freguesia, com território desmembrado da Freguesia de São João do Paraguaçu, que era uma Sesmaria doada ao Sr. Cassiano Martins. O objetivo era cultivar as terras e desenvolver o povoamento. (Sesmarias eram terras incultas que até no início do século XIX o rei de Portugal doava para pessoas importantes). 

A Resolução Provincial n° 2.439/84 de 15/05/1884 fez com que o povoado de Xique-Xique também tivesse o Tribunal do Juizado de Paz.

Não demorou e por Resolução Provincial n° 2.444 de 19/05/1884 assinada pelo presidente da Província, Francisco José de Souza, foi então criada a Vila de Andaraí e o território elevou-se a Município com o mesmo nome, composto por dois Distritos: Andaraí e Xique-Xique do Igatu. O território ficou composto com as terras desmembradas de Santa Isabel do Paraguaçu (atual Mucugê). 

A Vila com todo o território foi desmembrada de Santa Isabel do Paraguaçu e  instalada em 14/07/1885.

O Fórum foi criado em 1885. Termo judiciário de Mucugê em 1890. Hoje esse importante órgão funciona em prédio próprio no bairro Alto do Ibirapitanga. Por esse palácio da justiça passaram mais de 25 juízes titulares. 

A Vila foi elevada para a condição de cidade com a denominação de Andaraí, por Ato Estadual de 28/04/1891, assinado pelo governador José Gonçalves da Silva.

Pelo mapa da Divisão Administrativa de 1911 o Município aparece composto por dois distritos, a saber: Andaraí (a sede) e Xique-Xique do Igatu.

No quadro da apuração do recenseamento geral de 1°/09/1920 o Município aparece composto por dois Distritos: Andaraí (a sede) e Xique-Xique do Igatú.  

O ano de 1933 (na república nova, na era Vargas), foi um ano muito importante. Nesse ano, pelo Dec. Estadual n° 8.386/33 de 11/03/1933 foi criado o Distrito de Piranhas e anexado ao Município de Andaraí. Em Mapa da Divisão Administrativa de 1933 o Município ganhou mais um Distrito e aparece constituído de 4 (quatro) distritos, a saber: Andaraí (a sede), Xique-Xique do Igatu, Iguaçu e Piranhas.

Nos Mapas da Divisão Territorial de 31/12/1936 e 31/12/1937 o Município aparece composto pelos mesmos 4 Distritos.

Em 1938, pelo Dec. Estadual n° 11.089/38 de 30/11/1938 o nome do Distrito de Xique-Xique do Igatu foi alterado para Igatu.

No Mapa da Divisão Territorial de 1943 o Município aparece constituído pelos mesmos 4 quatro Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Iguaçu, Igatu e Piranhas.

Mais tarde, pelo Dec. Estadual 141/43 confirmado pelo Dec. Lei Estadual n° 12.978/44 de 01/06/1944 o Distrito de Iguaçu teve o nome alterado para Iaeté (nome de origem indígena, que significa “pedra muito dura”). Continuou pertencendo a Andaraí.

No Mapa da Divisão Territorial de 01/07/1950 o Município de Andaraí é demonstrado com 4 (quatro) Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Iaeté, Igatu e Piranhas.

Em 30/12/1953, pela Lei Estadual n° 628 foi criado o Distrito de Ubiraitá (ex-povoado de Lagoinha) e anexado ao Município de Andaraí.

No Mapa da Divisão Territorial de 01/07/1955 o Município aparece constituído de 5 (cinco) Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Igatu, Iaeté, Piranhas e Ubiraitá. Assim permaneceu até 1960. 

Em 25/09/1961 a Lei Estadual n° 1.497/61 autorizou o desmembramento do Distrito de Iaeté, que foi elevado para a categoria de Município. 

No Mapa da Divisão Territorial do Estado da Bahia, datado de 31/12/1963 o Município de Andaraí aparece constituído de 4 Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Igatu, Piranhas e Ubiraitá.

Pela Lei Estadual n°4.049/82 de 14/05/1982 o nome do Distrito de Piranhas foi mudado para Nova Redenção.

1985 – ano da inauguração da estátua em homenagem aos garimpeiros, trabalhadores que com trabalho e dedicação ajudaram no desenvolvimento do Município. 

No Mapa da Divisão Territorial de 1988 o Município aparece formado por 4 (quatro) Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Igatu, Nova Redenção e Ubiraitá.

Em 24/02/1989 a Lei Estadual n° 4.841/89 autorizou o desmembramento do Distrito de Nova Redenção, que foi elevado para a categoria de Município. 

. No Mapa da Divisão territorial de 1995 o Município de Andaraí aparece constituído por 3 (três) Distritos, a saber: Andaraí (a sede), Igatu e Ubiraitá.

Festa em homenagem ao garimpeiro - 1998. Uma justa homenagem aos trabalhadores, cidadãos honrados, que muito fizeram para levantar bem alto o nome de Andaraí.

No Mapa da Divisão Territorial de 2007, o Município de Andaraí aparece constituído dos mesmos Distritos de 1995, isto é, Andaraí (a sede), Igatu e Ubiraitá.

Em 2012 foi acrescentado o Distrito de Nova Vista.

      É importante mencionar que ao longo da sua história, Andaraí tem produzido e colocado pessoas importantes no cenário da vida intelectual, política e artística no plano regional e nacional. Entre os personagens importantes está o escritor Herberto de Azevedo Salles. (4) Esse importante baiano nasceu em 1917 aqui na cidade de Andaraí. Além dos estudos no curso primário em Andaraí, estudou no Colégio Antônio Vieira, em Salvador. Viveu em Andaraí até 1948. Em 1944 escreveu o romance Cascalho. Foi membro da Academia Brasileira de Letras (4° ocupante da cadeira n° 3). Escreveu importantes obras, tais como Cascalho, Garimpos da Bahia (Ensaios – 1955), Além dos Marimbus (Romance – 1961) entre muitos outros. Viveu por muitos anos no Rio de Janeiro. Em 1974 foi para Brasília, onde assumiu a diretoria do Instituto Nacional do Livro. No governo do presidente José Sarney foi nomeado e assumiu a função de Adido Cultural da Embaixada do Brasil na França. Faleceu em 1999 com 81 anos de idade.


Este texto é parte integrante do livro Chapada Diamantina, em elaboração.

 ________________


 (1)    Índios que viviam no  sertão da Bahia. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, Caldas Aulete, vol. 5 pág.

             5.138 –  Editora  Delta, 1958 e Enciclopédia Universo, vol. IV pág. 3.736 – Edit. Delta / Edit. Três -  1973.

 (2)     Pedro Calmon Muniz de Bittencourt, em seu livro História da Civilização Brasileira – 1937, c/4ª edição aumentada em

           1940. Foi o 4º ocupante da cadeira nº 16 da ABL. Nasceu em Amargosa – BA., em 1903 e faleceu no Rio de Janeiro           em 1985. Foi um grande jurista, professor de direito e grande historiador.

 (3)     Roy Funch, biólogo e professor, morador em Lençóis, relata fatos e mostra pontos importantes em seu livro: Um Guia Para o Visitante A Chapada Diamantina, pág. 119. Egba  – Empresa Gráfica da Bahia, 1997.

 (4)     Mário Ribeiro Martins, Dicionário Biobibliográfico de Membros da Academia Brasileira de Letras, pág. 74.  Edit. Kelps  -              Goiânia-GO, 2007.


SOBRE O AUTOR

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS é casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

Colaborador assíduo do Blog Literário do Filemon e trabalha no projeto do livro CHAPADA DIAMANTINA, em elaboração.


Nenhum comentário:

Postar um comentário