(PAISAGEM DE CANAVIEIRAS - BAHIA)
CORAÇÃO FILÓSOFO
Filemon Martins
Certa vez, perguntei ao coração:
- Por que vives sozinho sem amar,
não vês que a tua própria solidão
aumenta o teu sofrer e teu pesar?
Ele me respondeu, entristecido:
- “No meu caminho não encontro flores,
por onde passo, sinto constrangido
saudades, mágoas, penas, dissabores...
Amei demais. (Foi esse o meu pecado,
não devia jamais o confessar),
quando me vi perdido, abandonado,
sem saber neste mundo o que buscar.
E nessa estrada escura e decadente
onde a tristeza um dia fez morada,
eu fiquei só e então, perversamente,
minha esperança em dor foi sepultada!
Se sofro? Não importa o sofrimento?
- Meu destino no mundo é padecer!
Promessas são levadas pelo vento,
só não leva, na vida, o meu sofrer.
É por isso que vivo assim chorando
na solidão da minha vida em flor,
seguindo o meu caminho, soluçando,
sofrendo, amargurado, a minha dor”.
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Calado, eu escutei sua resposta,
e acanhado fiquei a perguntar:
- Por que razão o amor que a gente gosta
é sempre o mesmo que nos faz chorar?
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