quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A SOLIDÃO E SUA PORTA

 


A SOLIDÃO E SUA PORTA
Carlos Pena Filho (Recife - 1929 a 1960)

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

e arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é solvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 213)


Nenhum comentário:

Postar um comentário