terça-feira, 26 de setembro de 2023

ROMANCEIRO DO VELHO CHICO - SER TÃO SERTÃO

 



ROMANCEIRO DO VELHO CHICO

SER TÃO SERTÃO

Carlos Araújo


Fugi da lida metropolitana

Busquei guarida aqui no interior

Deixei de ser um mero espectador

Um número a mais na variância humana.

Ao retornar à calma interiorana

Nestes rincões finquei meus ideais.

Vou revivendo antigos rituais,

Como um bom dia a cada semelhante,

E me pergunto, instante por instante,

O que da vida eu pediria mais?


Uma surrada verbalização

Que virou mote da maior cidade

Dizia que tinha exclusividade

De dar lazer, trabalho e educação.

Mas isso tudo veio pro sertão.

Com laptops que me dão sinais

Da internet para ler jornais

Até na sombra dum tamarineiro

E nesse micro vejo o meu dinheiro.

O que da vida eu pediria mais?


A violência e a marginalidade

Eu vi sumir do meu cotidiano

Aqui recebo mais calor humano,

Dei mais um passo pra felicidade.

Estou ligado na modernidade,

Além das coisas mais tradicionais,

Televisor com mais de cem canais,

Me dá notícias deste vasto Mundo,

A cada instante e a qualquer segundo,

O que da vida eu pediria mais?


Qualifiquei de vez a minha vida

Com milho verde, amora e com mamão,

Com melancia, goiaba e com melão,

Sem defensivos e sem herbicida.

É meu menu de salutar comida

Sem agrotóxico e sem residuais.

Só vou comer galinhas de quintais

Posta de peixe em forma de filé,

Tenho aipim na mesa do café.

O que da vida eu pediria mais?


No Velho Chico assentei minha agenda

Como o tomate e o feijão da ilha

Aqui sou vate e o verso tem a trilha

Do grande Rio, da serra e da fazenda.

Gosto de ver escorrer da moenda

O doce caldo dos canaviais.

Se chamo amigo em horas cruciais

Sempre aparece como por encanto

Fico feliz e por aqui me imanto,

O que da vida eu pediria mais?


Aqui é tudo recompensador

Posso escrever duma espreguiçadeira,

Tranquilamente, à sombra da mangueira,

Naquela paz que o meu ser buscou.

Eu sempre encontro um interlocutor

Para falar das coisas mais banais

Hoje desdenho enormes capitais

Nos Grandes Centros dei meu xeque-mate

Deixo esse mote como um arremate:

O que da vida eu pediria mais? 


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