ROMANCEIRO DO VELHO CHICO
SER TÃO SERTÃO
Carlos Araújo
Fugi da lida metropolitana
Busquei guarida aqui no interior
Deixei de ser um mero espectador
Um número a mais na variância humana.
Ao retornar à calma interiorana
Nestes rincões finquei meus ideais.
Vou revivendo antigos rituais,
Como um bom dia a cada semelhante,
E me pergunto, instante por instante,
O que da vida eu pediria mais?
Uma surrada verbalização
Que virou mote da maior cidade
Dizia que tinha exclusividade
De dar lazer, trabalho e educação.
Mas isso tudo veio pro sertão.
Com laptops que me dão sinais
Da internet para ler jornais
Até na sombra dum tamarineiro
E nesse micro vejo o meu dinheiro.
O que da vida eu pediria mais?
A violência e a marginalidade
Eu vi sumir do meu cotidiano
Aqui recebo mais calor humano,
Dei mais um passo pra felicidade.
Estou ligado na modernidade,
Além das coisas mais tradicionais,
Televisor com mais de cem canais,
Me dá notícias deste vasto Mundo,
A cada instante e a qualquer segundo,
O que da vida eu pediria mais?
Qualifiquei de vez a minha vida
Com milho verde, amora e com mamão,
Com melancia, goiaba e com melão,
Sem defensivos e sem herbicida.
É meu menu de salutar comida
Sem agrotóxico e sem residuais.
Só vou comer galinhas de quintais
Posta de peixe em forma de filé,
Tenho aipim na mesa do café.
O que da vida eu pediria mais?
No Velho Chico assentei minha agenda
Como o tomate e o feijão da ilha
Aqui sou vate e o verso tem a trilha
Do grande Rio, da serra e da fazenda.
Gosto de ver escorrer da moenda
O doce caldo dos canaviais.
Se chamo amigo em horas cruciais
Sempre aparece como por encanto
Fico feliz e por aqui me imanto,
O que da vida eu pediria mais?
Aqui é tudo recompensador
Posso escrever duma espreguiçadeira,
Tranquilamente, à sombra da mangueira,
Naquela paz que o meu ser buscou.
Eu sempre encontro um interlocutor
Para falar das coisas mais banais
Hoje desdenho enormes capitais
Nos Grandes Centros dei meu xeque-mate
Deixo esse mote como um arremate:
O que da vida eu pediria mais?
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