segunda-feira, 25 de setembro de 2023

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA - CIDADE DE ABAÍRA (PARTE II)

 


MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA
MUNICÍPIO DE ABAÍRA (Parte II)

Saul Ribeiro dos Santos
📧saul.ribeiro1945@gmail.com

Conta-se que no início da 2ª metade do século XIX, aqui nesta parte do interior da Bahia existia um homem muito bom, por nome José Joaquim de Azevedo, o qual recebeu por herança, uma grande extensão de terras, onde passou a morar com sua família e seus empregados. Por causa dos terrenos apropriados para o cultivo de cana, deram para suas terras o nome Capoeira da Cana. Junto à sua casa ele estabeleceu uma venda. Garimpeiros, tropeiros e moradores das roças e povoados existentes nas redondezas iam para a casa de José Joaquim Azevedo para conversar e ver se compravam algumas coisas. 
Não demorou muito e o Sr. José Joaquim percebeu a necessidade ampliar o seu comércio. Ele estabeleceu um armazém para a venda de gêneros alimentícios, miudezas e bebidas. O objetivo era atender a demanda do povo local e dos garimpeiros que se deslocavam, no vaivém para Mucugê, Lençóis, Bom Jesus do Rio de Contas (atual Piatã), Rio de Contas e outras partes, passando pelo armazém ou venda do “seu Zé”, como era mais conhecido o estabelecimento. Ainda hoje, em algumas regiões do interior do Brasil chamam de “taboca”, “bodega” ou simplesmente “venda” as pequenas casas comerciais que vendem secos & molhados, cereais e artigos diversos.
Em 1878, nesse local chamado Capoeira da Cana, o Sr. José Joaquim Azevedo achou por bem mandar construir uma pequena Igreja Católica. A igreja ficou pronta em 1879. O senhor Azevedo e seus amigos encomendaram a imagem de N. Sra. da Saúde, para ser a padroeira do local. A 1ª missa foi celebrada pelo padre José de Souza Barbosa, mais conhecido na região como padre Souza. O povoado foi crescendo em torno da igreja recém-construída. 
Não demorou muito tempo e o povoado passou a ser chamado de Tabocas. Mas porque o nome Tabocas? Nas baixadas da região predominavam brejos, com terras úmidas, sendo que ali existiam muitos pés do arbusto bambu, de maneira que formavam um imenso bambuzal. Existia inclusive um riacho com o nome Taboquinha.
Vamos tomar ciência da marcha dos acontecimentos neste vilarejo histórico até a data da sua emancipação politico administrativa: 
Por Lei Provincial de 1842 foi criada a Vila de Bom Jesus do Rio de Contas, subordinado ao Município de Minas do Rio de Contas. 
Por Lei provincial, em 11/07/1878 a vila Bom Jesus do Rio de Contas foi desmembrado do Município de Minas do Rio de Contas. Nessa ocasião a vila fiou constituída de 5 Distritos, entre os quais consta o nome de Tabocas. (Tabocas foi o 1° nome oficial do Distrito Abaíra).
No Mapa da Divisão Administrativa de 1911, o Distrito de Tabocas aparece pertencendo ao Município de Bom Jesus do Rio de Contas.
Mais tarde, por Lei Municipal de 24/04/1916, aprovada pela Lei Estadual n° 1.162/16 de 09/08/1916 o Distrito teve o nome mudado de Tabocas para Abaíra.
No Mapa do Recenseamento geral de 01/09/1920 o Distrito de Abaíra (ex-Tabocas) aparece fazendo parte do Município de Bom Jesus do Rio de Contas.
Anos mais tarde, em 1931, pelos Decretos Estaduais 7.455/31 e 7.479/31 o Município de Bom Jesus do Rio de Contas teve o nome mudado para Anchieta.
No Mapa da Divisão Administrativa de 1933 o Distrito de Abaíra aparece fazendo parte do Município de Anchieta (ex- Bom Jesus do Rio de Contas).
Anos mais tarde, pelo Decreto-Lei Estadual n° 141 de 31/12/1943, retificado pelo Dec. Estadual n° 12.978/44 de 01/06/1944 o Município de Anchieta teve o nome mudado para Piatã.
No Mapa da Divisão Administrativa do território de Piatã do ano 1950, o Distrito de Abaíra aparece fazendo parte do Município de Piatã.
Ao longo dos anos e com o desenvolvimento do Distrito as lideranças políticas locais se envolveram no interesse comum pela emancipação política de Abaíra.  Entre os anos 1951 até o início de 1962, durante os anos em que o Estado da Bahia foi governado por Luís Régis Pacheco, Antônio Balbino de Carvalho e Juraci Montenegro Magalhães, foram anos de conversas, troca de ideias, entendimentos e aguardo da oportunidade para a emancipação política de Abaíra. No tempo oportuno, em 22/02/1962 foi assinada a Lei Estadual nº 1.622/62 que consolidava a emancipação político-administrativa de Abaíra. Na cidade ainda existem muitas pessoas que se lembram do esforço dos lideres políticos daquela época. As pessoas mais idosas se lembram e participaram das festas comemorando a independência do Município, que ficou constituído de dois Distritos, a saber: Abaíra (a sede) e Catolés. 
Terminadas as festas comemorando a emancipação, as lideranças políticas locais se reuniram, agendaram as datas e logo começaram as reuniões partidárias com o objetivo de apresentar candidatos e enfrentar a campanha eleitoral. Este Município faz parte da UPB – União das Prefeituras da Bahia. O nome está sendo mudado para União dos Municípios da Bahia.
A emancipação política e administrativa do Município de Abaíra se deu num período difícil para a política brasileira, pois a partir de 1961, com a renúncia do Presidente Jânio da Silva Quadros, a política nacional passou a viver momentos de crises. Após a renúncia assumiu o poder o Sr. Pascoal Ranieri Mazzili (presidente da Câmara dos Deputados) por poucos dias. A partir do dia 07/09/1961 assumiu o poder da República o vice-presidente João Belchior Marques Goulart, mas as crises políticas e os desentendimentos a nível nacional continuaram, deixando muitos políticos nervosos e inseguros, de modo que em 31 de março de 1964 eclodiu a revolução militar para reorganizar o congresso nacional e colocar ordem na política. O presidente João Goulart foi deposto e o Brasil passou a ser governado por uma junta militar. Para exercer a presidência, seguindo a orientação do Ato Institucional nº 1, foi eleito pelo Congresso Nacional o Gen. Humberto de Alencar Castelo Branco, que tomou posse em 15/04/1964. Ao longo dos anos, outros generais assumiram o mandato. O regime militar durou até o final do governo do Presidente Gen. João Batista de Oliveira Figueiredo, em 15 de março de 1985.

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   Este texto é parte integrante do livro Chapada Diamantina, em elaboração.


SOBRE O AUTOR:
SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.
Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.


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