sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES - JORGE DE LIMA

 



O ACENDEDOR DE LAMPIÕES é um soneto antológico e traz uma advertência bastante atual:


O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
 
JORGE DE LIMA - Alagoas (1895-1953)
 
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Esse mesmo que vem, invariavelmente,
parodiar o sol e associar-se à lua,
quando a sombra da noite enegrece o poente.
 
Um, dois, três lampiões acende e continua
outros mais a acender, imperturbavelmente,
à medida que a noite, aos poucos, se acentua
e a palidez da lua apenas se pressente.
 
Triste ironia atroz que o senso humano irrita!
Ele, que doura a noite e ilumina a cidade,
talvez não tenha luz na choupana em que habita.
 
Tanta gente também nos outros insinua 
crenças, religião, amor, felicidade, 
como esse acendedor de lampiões da rua!

TROVAS DE ALOISIO ALVES DA COSTA

 



TROVAS DE ALOISIO ALVES DA COSTA

Mesmo nos dias tristonhos
cheios de angústias e anseios,
eu busco à luz dos meus sonhos
dar vida aos sonhos alheios.

O remorso no presente,
das minhas culpas de outrora,
faz de mim – homem valente –
uma criança que chora!

Os meus dias são pedaços
de tempo na eternidade,
que a vida embala nos braços
misturados de saudade.

Ao ver o leito das águas
e tanta gente sem leito,
transborda o rio das mágoas,
que enche de mágoas meu peito.

(Anuário – Coletânea de Trovas
 Brasileiras – Recife – PE - 1979)

IPUPIARA - BAHIA - FILEMON MARTINS

 


                          (FOTO CROMATIZADA POR ISAAC MOISÉS MARTINS)



IPUPIARA (Chapada Diamantina, Bahia)
         (Retratada no livro “Coronelismo no Antigo Fundão de Brotas,” de Mário Ribeiro Martins)

                   Filemon Martins

Cravada no Sertão, jardim de flores,
nasceu uma cidade hospitaleira.
Seus campos coloridos, sedutores,
tornam a vida bela e corriqueira.

Berço de heróis, poetas, escritores,
produzem versos na cidade ordeira.
O clima é quente, bom e aviva as cores
da alegria que é sempre verdadeira.

Ipupiara é flor cheia de encanto,
cuja beleza inspira o bem, porquanto
as alegrias são puras e completas.

Há de brilhar no céu, mesmo à distância,
esta Terra de amor e de elegância,
pois tu és a cidade dos poetas!

INDIFERENÇA - ZIVER RITTA

 



INDIFERENÇA
           ZIVER RITTA (Porto Alegre-RS)

Dias depois da nossa desavença,
naquela tarde, num final de agosto,
eu compreendi o aviso na sentença
que, sem sorrir, ela jogou-me em rosto.

Disse, claro demais para meu gosto:
“Bem ao contrário do que reza a crença
que nós chamamos popular, o oposto
do amor não é o ódio. É a indiferença”.

Depois da nossa briga assim me disse,
e o fez, como se vê, de forma clara,
para que eu não tomasse por tolice.

Por isso hoje, ao ver-nos frente a frente,
se ela com ódio em seu olhar me encara,
desvio o meu olhar indiferente.

(Jornal FANAL, n° 564, agosto de 2002, página 01, órgão oficial da Casa do Poeta “Lampião de Gás”, de São Paulo)